Saraiva MegaStore

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Guardar todas as minhas roupas naquele closet enorme não foi um trabalho difícil. O tamanho do closet era o equivalente do meu quarto em Nashville. Olhei maravilhada para meu quarto, ainda não acreditando na minha sorte. Los Angeles e a Spotlights era meu sonho, e eu estava-o realizando. Parecia bom demais, como se eu tivesse caído em um filme.

Desci as escadas, reparando que eu estava sozinha na enorme casa. Minha tia Vívian tinha que ir para Nova York, cuidar pessoalmente de uns detalhes da sua próxima exposição. Os empregados estavam de folga. Eu estava entediada, havia ficado a semana inteira organizando minhas coisas, e mal tinha ido a praia.

Decidi dar uma volta, então peguei minha bolsa no meu quarto e saí de casa. Peguei um taxi e pedi que ele me levasse no shopping mais próximo. Quando chegamos, paguei a corrido e entrei no lugar. Estava admirada como tudo ali era grandioso e chique, as pessoas eram altas e loiras, assim como eu, mas diferentemente eram bronzeadas e cheias da grana, enquanto minha pele era branca e eu não tinha tanto dinheiro assim.

Dei algumas voltas, e então avistei a Saraiva e meus olhos brilhavam. Eu amava ler, poderia passar o dia inteiro lendo que não me cansaria. Controlei a vontade de correr até a loja. Caminhei naturalmente, mas vibrava de animação por dentro. Passei direto para a sessão de romances, depois ficção cientifica. Meus braços estavam cheios de livros que variava de ‘A Culpa É Das Estrelas’ a ‘A irmã de Ana Bolena’. Eu estava saindo da seção de clássicos, onde eu havia pegado Orgulho e Preconceito quando senti o corpo de alguém trombar junto ao meu. Eu era alta, mas magra e a outra pessoa tinha os ombros largos, portanto o resultado foi todos os meus livros irem ao chão.
O homem (sua voz era grossa, portanto pude deduzir que fosse alguém do sexo masculino), pediu desculpas pelo acidente.

- Não tem problema, a culpa foi minha eu estava distraída. – Respondi, com as bochechas queimando de vergonha. Mais uma de Tori Morgan, a estabanada de sempre. Quando terminamos de pegar os livros, pude finalmente olhar para ele, o que quase me causou um enfarto. Ele era lindo. Alto, musculoso, o cabelo castanho levemente despenteado, incríveis azuis.

- Não foi sua culpa Rob. – Falei com um sorriso de desculpas, quando ele insistiu e disse seu nome – Meu nome é Victoria, mas todo mundo me chama de Tori. – Tentei ignorar minhas bochechas vermelhas. Esse era o problema de ser tão branca, qualquer coisinha meu rosto virava um pimentão. – Ah, aqui está seu livro. – Estendi-lhe o volume único de O Senhor dos Anéis , que eu também comprara. – Ahn, é um ótimo livro. – Falei me referindo a saga de Tolkien. – Eu já tenho todos os livros, mas a versão única ainda não. – Comentei, com um sorriso tímido. Qual era o meu problema? Não conseguia conversar com ninguém do sexo masculino sem ficar nervosa.

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Robert parecia surpreso pelo fato de eu já ter lido o livro. Muitas garotas preferiam romances água-com-açúcar, mas eu nunca fui igual a maioria mesmo.

- Minha mãe que me ensinou a gostar de livros no estilo de O Senhor dos Anéis. Eu comecei a ficar aficionada por livros assim. Passei muitas tardes lendo ao invés de ir pra rua brincar com as outras crianças. Na verdade até hoje é assim. – Ri, lembrando-me que várias vezes recusei o convite de festas para ficar lendo algum livro que eu não conseguia largar – O meu clássico favorito é Orgulho e Preconceito. Já li várias vezes, mas mesmo assim a história ainda me toca – Comentei, quando Robert disse que precisava de livros clássicos para suas aulas – E em que escola você dá aula? – Perguntei curiosa.

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Fiquei surpresa e feliz ao mesmo tempo por ele gostar de Austen. É que a maioria dos caras não gostam desse tipo de livro, isso quando gostam de ler. Grande parte é aficionada por videogames violentos ou futebol, grosseiros e sem um pingo de inteligência. Agora que pensei nisso, todos eles eram adolescentes imaturos que comparados a Robert, uma pessoa intelectualmente desenvolvida, pareciam bebes do jardim de infância.

- Na Spotlights High School. Conhece? – Respondeu ele quando perguntei onde ele dava aula. Balancei a cabeça positivamente quando ele perguntou-me se eu conhecia a instituição - É uma ótima da escola, na verdade, uma das melhores do país. Dou aula de Inglês de Literatura, lá.

- Claro que conheço a Spotlights, eu irei estudar lá esse ano. – Falei com um sorriso no rosto – Na verdade, eu saí de Nashville e vim para Los Angeles especialmente para estudar lá. Sabe que agora estou gostando ainda mais da ideia de estudar na Spotlights, eu soube que há um professor de Inglês e Literatura muito charmoso. – Pisquei, brincando com ele. Definitivamente eu iria me esforçar muito nessas aulas. Isso se eu conseguisse me concentrar na aula e não nele. “Para de pensar besteira Tori, como se um cara lindo e inteligente como ele fosse se interessar por você, uma adolescente boba”, uma vozinha na minha cabeça me disse. Abaixei meu olhar por um instante e notei um anel de ouro na sua mão esquerda. “Oh oh, encrenca. Ele é comprometido.  Estou tendo pensamentos maliciosos com um cara que é casado!”.  Eu realmente não tinha sorte.

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No momento em que ele percebeu que eu havia notado sua aliança, um clima constrangedor pairou entre nós.

- Bom, Tori, foi um prazer conhecer você. – Disse ele sinceramente, apesar do sorriso constrangido. - Tenho certeza que você será uma das minhas melhores alunas, com todo esse seu interesse por livros. Agora, se me dá licença, tenho que ir procurar alguns livros interessantes para trabalhar.

- Tudo bem. – Respondi com um sorriso pequeno. – Até as aulas então. – Despedi-me, olhando mais uma vez naqueles olhos azuis por um segundo que pareceu durar mais, meu olhar preso ao seu. Por fim quebrei a ligação, virando-me e tentando me desfazer da sensação esquisita de saudade que queria se apossar de mim.

Foi quando ouvi sua voz me chamar. Volte-me para ele rapidamente, fitando novamente aqueles olhos que me conquistou tão rapidamente, aquele sorriso tímido que estranhamente fez meu coração palpitar.

- Gostaria de me ajudar, Tori? A escolher alguns livros? Quer dizer, você parece ter um ótimo gosto... – Perguntou ele, e estranhamente comecei a me sentir alegre por passar mais alguns minutos ao seu lado, esquecendo-me momentaneamente que ele pudesse ser comprometido.

- Ah, claro, eu adoraria. – Respondi, tentando impedir um enorme sorriso se espalhar no meu rosto. “Se controle Tori!”, ordenei-me mentalmente, antes de caminharmos para a sessão de clássicos. Passamos alguns minutos observando os títulos em silêncio, até eu quebra-lo. – Eu gosto da literatura mais moderna, realmente há alguns livros realmente bons, mas eles não têm a mesma... Elegância, tradição. Os antigos escreviam de forma mais poética. – Disse com um sorriso para ele.

Estranho como eu me sentia confortável com Rob, mesmo tendo conhecido há menos de meia hora atrás. Eu sentia que poderia ficar horas apenas conversando com ele que não me cansaria. Como se nos conhecêssemos de outras vidas, diria minha mãe.

- Ah, eu adoro esse aqui! – Falei, pegando um livro intitulado “Os Idílios do Rei”. – Eu adoro os poemas do Tennyson, principalmente A Dama de Shallot. Eu sei até algumas estrofes de cor. “De ambos os lados do rio se encontram longos campos de cevada e de centeio, que cobrem a planície e encontram o céu; E pelo campo a estrada corre para a Camelot de muitas torres; E as pessoas vão para cima e para baixo, contemplando onde os lírios flutuam, há uma ilha mais abaixo, a ilha de Shalott.” – Recitei, minha voz baixa e melodiosa. Era como se eu tivesse sido transportada para aquela época e estivesse cantando a balada vitoriana para o próprio príncipe a que ela foi dedicada. – “Salgueiros embranquecem, álamos tremem, ligeiras brisas, crepúsculo e calafrio. Pela onda que corre eternamente pela ilha no rio boiando até Camelot. Quatro paredes cinzentas, e quatro torres cinzentas, negligenciam um espaço de flores, e a ilha silenciosa cobre de sombras a Lady de Shalott.” - Terminei de recitar, ficando em silêncio, deixando a poesia ainda parar docemente sobre nós. – Acho que você já percebeu que gosto de coisas antigas. – Ri um pouco, mas me calando ao notar seu olhar intenso sobre mim. Devolvi o olhar, completamente perdida naquele mar azul que eram seus olhos.

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