Sushi Kin

Arrumar a casa nunca foi uma das minhas tarefas favoritas, mas era mais do que óbvio que eu não tinha escolha alguma. Para piorar as coisas, tive que terminar de carregar as caixas sozinha. Aparentemente meu pai tinha uma reunião extremamente importante, a qual ele não poderia se atrasar um segundo se quer. Nem para ajudar a sua filha. Com todas as caixas devidamente posicionadas em seus devidos cômodos. Óbvio que eu não ficaria minha tarde inteira trancada em casa arrumando tudo. Por isso que não hesitei em ligar para a agência de taxi e pedir um carro para já. Subi rapidamente para meu quarto e abri a primeira caixa que eu encontrei. Tive a sorte de encontrar logo a caixa dos vestidos.
O sol do lado de fora estava tão intenso quanto o calor que parecia me fazer derreter. Era estranho como eu simplesmente odiava calor, mas não conseguia ficar um dia sem sol. Logo puxei de dentro da caixa um vestido florido se alcinha. Sobre o sapato, resolvi permanecer com meus saltos, já que combinavam com o vestido.
Enquanto descia as escadas pus meus óculos escuros e arruei minha bolsa no ombro. O táxi já me aguardava na frente da casa. Apesar de não conhecer nem um pouco essa cidade e do meu inglês não ser fluente havia um lugar que eu tinha certeza que o taxista poderia me levar. Assim que me veio à mente, indiquei que o motorista me levasse ao shopping. Quando cegamos no lugar, paguei com o cartão. Era magnífico como o mundo era cada vez mais moderno.
Andando pelo local, eu percebi como não era tão diferente de qualquer outro shopping. A maior parte das lojas já era conhecida. Foi quando eu me lembrei: Eu estava faminta. Não dei outra, entrei no primeiro restaurante que vi. Não puder ter mais sorte. Era um restaurante japonês. Eu amo comida japonesa. Sentei-me em uma das cadeiras no tipo de bancada e pedi por uma porção de sushi de salmão. Enquanto esperava, peguei meu celular e comecei a conferir minhas redes sociais.

Não demoro muito para meu pedido chegar. Aliás, essa era uma das grandes vantagens da comida japonesa. Bem, nem todas, mas pelo menos do sushi. Até porque também esse deveria ser o restaurante mais tranquilo há essa hora. Bloqueei meu celular e pus na minha bolsa. No momento em que me virei de lado para fazer isso pude ver uma nova pessoa. Parecia que ela havia acabado de chegar. A menina parecia ser da minha idade, mas era um pouco mais alta do que eu. Aliás, qualquer um seria.
- Bela escolha. – Disse rindo e pegando meus hashis e balancei no ar. Meu sotaque era bem forte, mas acredito que era possível entender o que eu falava.– Contudo, eu ainda prefiro com arroz e algas. Sushi. – Sorri para a garota e então peguei uma das peças de peixe na minha frente, molhei no shoyo e comi. - Bon appétit. - Disse com a boca já vazia.

Foi engolindo meu segundo sushi que eu parei para reparar no estado da morena. Ela estava nervosa e até tremendo um pouco. Nenhuma de nós poderia prever o pequeno desastre que estava por vir, pois tudo o que eu pensava naquele momento é que talvez tivesse sido bom vir aqui. Lá na França eu era cercada de amigas, seriam elas verdadeiras ou não. Apesar de nem sabe o nome da garota, ia tentar me aproximar dela.
Mordisquei mais um quitute japonês. Ainda faltavam dois desses no meu prato quando ouvi um suspiro de susto. Virei-me da direção da menina e vi-a tentando arrumar seu vestido levemente sujo. Não vi exatamente o que havia acontecido, mas supus que tivesse deixado seu sashimir cair na roupa.
- Ei, Bambi, não precisa ter um ataque do coração. – Ri – Seu salmão não foi devidamente morto, tudo bem. Estamos num shopping. –Dei de ombros com um sorrisinho malicioso. Então cruzei as pernas e apoiai um dos cotovelos no balcão enquanto balançava os hashis com a mão livre. – Pense bem, Bambi. Não seria essa uma ótima desculpa para se comprar uma roupinha nova? – Semicerrei os olhos e inclinei levemente a cabeça. – Ter mine seu almoço e eu posso de ajudar com isso ai. – Sorri enquanto indicava a roupa da menina, com os meus hashis. Logo depois voltei minha atenção aos dois belos pedaços de sushi que restavam em meu prato.

Tinha acabado de voltar minha atenção pra minha comido quando finalmente ouvi a voz da garota. Era baixa, doce e melodiosa. Dava para perceber que ainda estava bem nervosa. Larguei meus hashis sobre o prato e estendi a mão na direção da morena.
– Cosette Devereaux. – O sotaque era bem mais intenso quando eu pronunciava algo em minha língua, mas para mim isso não fazia muita diferença. - Mas pode me chamar de Cose. – Apertei a mão dela sorrindo.
Assim que me arrumei novamente na cadeira, parei para pensar. - Jude é um nome bonitinho. Como o da musica com Beatles, não? – Virei a cabeça lembrando-me da música. - Entretanto, se você concordar, eu vou continuar te chamando de Bambi. – Ri. Em seguida comi mais um dos sushis, deixando apenas um último em meu prato. Enquanto ela respondia eu comi o último. Então retirei minha carteira da bolsa e pedi a conta. - Eu já acabei. Estou esperando você. – Disse apoiando-me sobre a bancada enquanto esperava a conta.