Malibu Beach

Eu sentia saudade de casa. Muita. Saudade da minha irmã, que havia ficado para trás para terminar a faculdade. Saudade dos meus amigos, que, apesar de terem me apoiado, não conseguiram esconder a tristeza por eu estar me mudando para tão longe. Mas principalmente saudade dele. Antoine. Não nos falávamos há semanas. Apesar de eu amá-lo mais do que qualquer outra coisa, Antoine sempre gostou de me manter por perto. De controlar a minha vida. Várias vezes me perguntei se nosso relacionamento era realmente nosso, ou apenas dele. Várias vezes me perguntei por que estávamos juntos. Várias vezes me perguntei se não seria melhor terminar tudo. Mas agora, que estávamos tão longe um d outro, eu não conseguia pensar nisso, apenas em como eu sentia falta dele. Meus pais brigando o tempo todo no quarto ao lado só conseguiam fazer com que esse sentimento piorasse.
Por isso, depois de três dias sem sair de casa, desde que eu chegara a Los Angeles, decidi ir dar uma caminhada pela praia de Malibu. Coloquei uma camiseta branca, um short azul e um All Star, com um biquini branco por baixo, caso quisesse entrar na água. Em seguida, peguei uma bolsa listrada e lá pus as coisas das quais pudesse precisar: uma garrafa d'água, uma toalha, protetor solar, celular e uma barrinha de cereais. Então, saí, em silêncio, pois não queria ter que encarar meus pais, enquanto brigavam.
A praia era realmente muito bonita. Estava cheia de gente, tanto na areia quanto na água, e os quiosques estavam todos lotados. Fui caminhando, observando as pessoas, até que cheguei numa parte mais vazia da praia. Estendi a toalha na areia, na sombra de uma gigantesca árvore da calçada e me sentei, colocando meus fones de ouvido. As músicas - muitas delas francesas - me faziam ter ainda mais saudade. Eu observava as ondas. Fiquei assim durante mais de uma hora, até que meu telefone tocou. Era uma mensagem da minha mãe, perguntando onde eu estava. Respondi o SMS dizendo que estava em Malibu, mas logo voltaria para casa. Juntei minhas coisas. Foi aí que me dei conta de que não sabia como voltar para casa. Ligeiramente assustada, fui caminhando na direção contrária à de antes. assim eu deveria chegar aonde tinha começado, não é? Andei o que me pareceram quilômetros, mas ninguém estava por perto. Até que vi, ao longe, uma garota. Fui caminhando em direção a ela. Tinha cabelos ruivos e pele muito branca. Decidi pedir informações para ela.
- Ahm, com licença? - eu disse, ligeiramente sem graça. - Sabe como chego à Brighton and Hove?

A garota ruiva parecia tão perdida quanto eu. Ela logo explicou que não era dali, era irlandesa, coisa da qual eu já havia desconfiado, pelo seu sotaque. Ela se apresentou como Lilian.

- Prazer Lilian. - eu sorri, simpática, deixando escapar um pouco do sotaque francês, sem querer. Fiquei vermelha por um instante. - Meu nome é Adrienne Blanche. Eu também não sou daqui. Vim de Marselha, na França. Cheguei há poucos dias.

Olhei ao redor. Não havia sial de ninguém. O sol estava forte, mas pelo menos ainda estava no meio do dia. Seria muito pior ficar perdida a noite.

- Bom, acho que se formos naquela direção, - apontei para a direção em que eu estava andando. - conseguiremos chegar em algum lugar com civilização. - eu ri, levemente. - O que acha?

Lilian concordou com a cabeça e fomos seguindo pela praia. O sol estava muito quente e a garota, que tinha a pele ainda mais clara do que a minha, já estava começando a ficar vermelha. Ela falou sobre o clima da Irlanda que, eu imaginava, era bem mais frio do que o de Los Angeles, e como não tinha se acostumado com aquilo ainda.

- Provavelmente vou virar um pimentão se não acharmos um lugar com sombra logo. - ela disse, e eu ri.

- Em Marselha o clima é bem ameno. Não chega a ser tão quente como aqui, mas também não é frio como a Irlanda. - eu comentei sorrindo. Lilian começou a passar seu protetor pelo rosto, o que diminuiu ligeiramente a vermelhidão de sua pele. Ela me ofereceu também, mas eu agradeci e indiquei o meu.

- E então Adri, posso te chamar assim né? – ela perguntou. Em resposta, eu sorri e fiz que sim com a cabeça. Na França, todos os meus amigos me chamavam assim. Apenas minha irmã gostava de me chamar de Enne e meus pais, apenas de Dri. – O que te trás a Los Angeles? - ela perguntou.

- Eu vim para cá com meus pais para estudar na Spotlights High School. Sempre foi o meu sonho e agora, por algum motivo, eles decidiram deixar. - dei de ombros, apesar de saber muito bem qual era o motivo. - E você? Algum motivo em especial? - perguntei, curiosa.

Lilian respondeu que tinha vindo para Los Angeles para morar com a avó e com a irmã, mas que, por coincidência (ou não), também estudaria na Spotlights.

- Que legal! - exclamei, alegremente. - Pelo menos agora, vou ter alguém com quem conversar e me sentar na hora do almoço.

- Agora não vai ser mais assustador ter que encarar o primeiro dia de aula, já que sei que vou ver um rosto conhecido... - ela interrompeu a fala, pois nós duas vimos, a alguns metros, um pequeno quiosque. Nos entreolhamos e corremos até lá.

Chegamos parecendo duas loucas, o cabelo no rosto, suadas e cansadas, mas, pela nossa situação, dava para entender, não é?

- Que sorte a nossa, hein? - disse Lilian.

- Sim, com certeza. - eu disse, me sentando numa mesinha e rindo. - Agora vou perguntar para aquele cara, como chego em casa. Já volto. - eu disse, enquanto me dirigia ao balcão para pedir informações.

O rapaz, que não devia ser muito mais elho do que eu, me lançou um sorriso galanteador e me informou detalhadamente como eu poderia chegar à minha rua, Brighton and Hove. Eu agradeci e voltei para a mesa.

- Bom, agora eu já sei como chegar em casa. - eu disse, para Lilian. - Mas estou morrendo de calor. Quer tomar um sorvete? - sugeri.

Quando voltei para a mesa em que estávamos, Lilian me disse que estava com o celular o tempo todo e, com seu GPS, poderíamos encontrar o caminho para casa facilmente. Eu ri de sua confusão.

- Então todo nosso desespero foi à toa. Eu sou uma lesada mesmo. - disse ela, balançando a cabeça, inconformada.

- Não se culpe tanto. Poderia acontecer com qualquer um. - eu disse. Então sugeri que tomássemos um sorvete, já que o calor estava insuportável. Lilian logo concordou.

Como o quiosque em que estávamos era muito simples, lá não tinha sorvete. Tivemos que andar mais um pouco para achar o que queríamos. Lilian pediu um sorvete de morango e pagou. Pedi um sorvete de flocos, meu sabor preferido. Demorei um pouco, mas entreguei o dinheiro para a moça (ainda me confundia um pouco com os dólares, estava mais acostumada a lidar com francos e euros) e fui para uma das poucas mesas desocupadas, junto com Lilian.

- Ai que delicia. - ela disse, após tomar sua primeira colherada. Eu sabia bem do que ela estava falando. Com aquele clima, até mesmo neve se tornaria um prato delicioso. Eu tomei uma colherada do meu sorvete. Ao sentir o geladinho na minha boca, me senti ligeiramente mais disposta e enérgica, mesmo depois de toda a caminhada. – Agora que estamos ‘a salvo’, podemos conversar com mais calma. O que você faz? Dança, canta, atua? - perguntou a ruiva.

- Na verdade, eu danço, atuo, canto e toco piano. - eu disse, dando de ombros. Todos sempre falavam que eu havia nascido para as artes, pela quantidade de coisas que eu sabia fazer. Mas na verdade, meu verdadeiro talento era a dança, apesar de eu também gostar de teatro e de música. - Também pinto e desenho, um pouco, mas não sou tão boa. Minha irmã mais velha, Chloë, é muito melhor do que eu. O que eu gosto mesmo de fazer é dançar. - eu disse, sorrindo. Lembrei-me do último ano, quando havia ganhado um grande concurso de dança, em que pessoas de toda a França haviam participado. Graças a essa vitória, havia garantido uma bolsa de estudos na Spotlights High School, mesmo que isso não se fizesse necessário, pela condição financeira de minha família. Meus pais ficaram muito orgulhosos. - Mas e você, Lily? Qual o seu talento? - perguntei.